quinta-feira, 15 de outubro de 2020

OS JESUÍTAS E A EDUCAÇÃO

 OS JESUÍTAS E A EDUCAÇÃO

                                                                Aroldo Rodrigues

 (Artigo publicado em 11 de outubro de 1979, na página 11, no caderno OPINIÃO do Jornal O GLOBO)

 

“Certas transformações que repentinamente se verificaram nos jesuítas na América Latina, causam especial preocupação para os que se ocupam da educação entre nós. A recente repreensão do Papa João Paulo II ao Geral dos jesuítas em Roma, onde assinalou os deploráveis erros doutrinários perpetrados pelos jesuítas na América Latina e lhes recomendou que voltassem à tradição inaciana, o recentemente processo de expulsão do Brasil movido pelo Ministério da justiça contra um jesuíta espanhol, radicado em Minas Gerais e o triste episódio nacionalmente conhecido como Crise da PUC, onde o totalitarismo esquerdista teve incondicional apoio da Reitoria daquela Universidade administrada pelos padres da Companhia de Jesus, concorrem, de fato, para que se veja com inquietação os frutos da atividade educativa dos jesuítas no país.

Ninguém de bom senso pode negar a influência benéfica da Companhia de Jesus na educação brasileira, desde Anchieta até hoje, em todos os níveis da educação, extrapolando até os limites do ensino formal e atingindo outras formas de instrução, como constitui exemplo a Escola de Líderes Operários iniciada na década de 50, e que se deve à ação dedicada e criadora do eminente, dinâmico e esclarecido jesuíta – Pe. Pedro B. Velloso. Os colégios dirigidos por jesuítas atingem, via de regra, elevado padrão de ensino e os alunos que deles egressam não raro ocupam lugar de destaque na sociedade. Várias casas de ensino superior no Brasil são dirigidas por jesuítas, constituindo exemplo as Universidades Católicas do Rio, de Goiânia, de Recife, a UNI-Sinos no Rio Grande do Sul etc. É enorme, pois, a responsabilidade dos jesuítas no que tange à educação.

A súbita mudança de orientação dos jesuítas, todavia, suscita séria apreensão, justamente no momento em que todos os esforços são empregados para consolidar a democracia no Brasil.

Ao que tudo indica (tanto que o próprio Papa se viu na contingência de alertar vigorosamente o Geral da Companhia) os jesuítas de hoje optaram pela conciliação do marxismo com o catolicismo. E, a julgar-se pela ação política de muitos deles, acham-se mais empolgados pelo primeiro que pelo segundo. Na PUC RJ, por exemplo, onde me foi dado testemunhar a mudança de orientação doutrinária da ordem jesuíta, há no momento três tipos de padres: os marxistas declarados, que se ocupam de proselitizar os alunos nos primeiros anos dos cursos, repetindo os tradicionais e cansativos refrões marxistas, sem qualquer inovação ou criatividade; há o não marxistas, que ocupam cargos de direção, e que chancelam toda a atividade marxista desenvolvida na universidade, quer pelos padres quer pelos leitos; finalmente, há os não marxistas, que de fato se opõem ao marxismo, mas que, no momento, estão totalmente ostracizados e desempenham funções pouco relevantes no que tange à orientação da universidade.

A opção totalitária de esquerda da PUC-RJ ficou flagrante nos acontecimentos da Crise da PUC no início deste ano e se acham amplamente documentada pela obra organizada por Antônio Paim, que a Editora Artenova acaba de dar a lume: Liberdade Acadêmica e Opção Totalitária. O Professor Paim mostra, com clareza meridiana, a adoção do totalitarismo esquerdista pela PUC-RJ soba a direção de seu atual Reitor, Pe. João McDowell, e sob a inspiração de outro jesuíta, antigo entusiasta da Ação Popular, o Pe. Henrique de Lima Vaz.

Se a opção totalitária de esquerda não se limita à PUC-RJ mas parece ter-se transformado na política de ação dos jesuítas, o fato é assaz preocupante. Que tipo de cidadão estarão os jesuítas formando em seus colégios e universidades? É  fácil, porém falso e enganador, dizer que o que estão fazendo é, simplesmente, conscientizar os alunos para os problemas sociais. O Pe. MacDowell, por exemplo, apressou-se em assim se defender quando concluiu seu infeliz pronunciamento no início da Crise da PUC com a seguinte frase: “Nem por isso a universidade se afastará de sua missão de despertar a responsabilidade social de seus professores e alunos, de acordo com as orientações da Igreja, alheia a qualquer ideologia”. No contexto em que está inserida ou seja, tentativa de resposta às críticas de censura acadêmica (ver Liberdade Acadêmica e Opção Totalitária, pag. 17) a frase chega a ser cômica. Ignorando-se este aspecto, todavia, pode-se indagar: Alguém jamais insinuara que a universidade devesse afastar-se de sua missão de despertar a responsabilidade social de seus professores e alunos? Por acaso é tal missão prerrogativa dos totalitários da esquerda? Não faz parte desta missão justamente formar os alunos dentro de um ambiente pluralista e antisectário, para bem prepara-los para o pluralismo da sociedade contemporânea? Não é, ademais, incompatível o despertar da responsabilidade social com a prática da censura confessada por motivos ideológicos, tal como  perpetrada na PUC-RJ no lamentável e inequívoco episódio gerador da Crise da PUC?

O mundo moderno tem, em meio a uma série de desvantagens, uma vantagem singular. Além de conhecer todas as formas antigas de totalitarismo, conheceu duas formas requintadas e modernizadas deste mal: o nazismo e o marxismo. Faz-se mister que os educadores envidem esforços livres no sentido de erradicarem de uma vez por todas a opção totalitária que Antônio Paim tão bem analise no caso da Crise da PUC (ver obra citada acima).

É meu desejo sincero que a chamada do Papa à volta à ortodoxia por parte dos jesuítas tenha o efeito salutar de provocar, em curso prazo, um retorno destes educadores a uma atividade que, antes do desvario que os acometeu, era de singular importância na educação dos brasileiros.

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Aroldo Rodrigues é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi professor da PUC-RJ de 1957 a 1979.



JORNAL O GLOBO, 11-10-1979, PAGINA 11
Jornal O Globo, página 11, caderno OPINIÃO, edição de 11 de outubro de 1979.


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